André Malraux e Brasília: Capital da Esperança


Nesta cidade que tem sua origem na vontade de um homem e na esperança de uma Nação, como as antigas metrópoles surgiram da vontade imperial de Roma ou dos herdeiros de Alexandre, o Palácio da Alvorada que edificastes, a catedral que haveis projetado nos trazem algumas das formas mais arrojadas da arquitetura, e, ante as esboços da futura Brasília, percebemos que a cidade inteira será a mais ousada que jamais o Ocidente haja concebida. Em nome de tantos monumentos ilustres que povoam nossa memória, graças vos sejam dadas por haverdes depositada confiança em vossos arquitetas para criar a cidade e em vosso povo para que lhe tenha amor. Tal ousadia, sabemos como alguns a temem, mesmo dentre amigos vossos. Mas se eles não se enganam quanta a resplendente originalidade desses projetos, é passível que apreendam mal o que lhes confere decisivo valar histórico. É chegada a hora de compreender que a obra que começa a erguer-se diante de nós e a primeira das capitais da nova civilização.
(...)
Concebeis a cidade como um imenso conjunto e, desde a origem, exigis que os edifícios nele assumam determinada significação . Eis porque Lucio Costa assim conclui: «A cidade não será apenas a sede do governo e da administração, mas ainda um dos maiores centros culturais do pais». Esta Brasília sobre o seu gigantesco planalto é de certo modo a Acrópole sobre o seu rochedo... Salve, capital intrépida, que recordas ao mundo estarem os teus monumentos ao serviço do espírito!
(...)
Haveis pronunciado aqui, Sr. Presidente da República, palavras conhecidas de muitos dentre nós:
«Deste planalto central, desta solidão que será em breve o cérebro de onde partirão as altas decisões nacionais, lanço um olhar, uma vez mais, sobre o futuro de meu país e entrevejo essa alvorada com fé inquebrantável e confiança sem limites na grandeza de seu destino».
(...)

Discurso que André Malraux, Ministro dos Assuntos Culturais da França, proferiu em Brasília a 24 de Agosto de 1959

Comentários

Rosangela Magalhães Pinto disse…
Amigo tão querido.
Adoro ler tudo que vc. escreve.Detalhe: e como aprendo.
beijos e muita saudade.

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