Um Café

Convite para um café no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília e depois uma passada na exposição de Clarice Lispector.

Era um fim de tarde.

E a oportunidade de duas pessoas se conhecerem.

Olhares, palavras, gestos,

Tudo era inteiro, intenso e verdadeiro

Confissões e encantamento.

Anel que corria na mesa... ia e via feito um "Fio de Ariadne" que conduzia aquela conversa.

Seria um Café Filosófico?

Pode ter sido.

Afinal livros, filmes, música se misturavam naquela mesa.

Seria um simples Café?

Isso nunca.

Um café que nenhum barista será capaz de decifrar o sabor, gramatura e intensidade.

Ou melhor somente os baristas com o mínimo de sensibilidade e conhecedor da alma humana.

Nem mesmo o capitão-mor que trouxe as primeiras mudas ainda no século XVII seria capaz de imaginar o seu poder.

Que café foi aquele?

Só sei que não era o de um lugar comum.

Cafés também possuem segredos assim como os seres humanos.

Foi um café de seis horas.

Mas que não foi possível mensuram a temporalidade

pois a intensidade foi maior do que o ponteiro ou cronômetro de um relógio.

Dizem que vinhos são dos deus e hoje eu digo:

cafés são dos amantes e das paixões.

Foi um saboroso café que ainda hoje de manhã sinto o seu gosto na minha alma.

E o café me fez deixar de ver você Clarice.

Mas Clarice ESPERA.


Texto escrito em homenagem a um dos mais interessantes e inteligentes cafés de minha vida.

Comentários

Stan Costa disse…
Foi muito café pra pouco bule!
Foram muitas horas para pouco relógio!
Foram muitos pensares e pensares para poucas cabeças e poucas bocas!Epifanias sujeitas às intempèries.
Temporalidades, empodeiramentos, barcos e pescas, focos e sombras entre adoçantes, açúcares, colheres, guardanapos, pernas que se mexiam quase como espasmos.
Espasmos da ânima!
Histórias de Homens!
Uma bolha no burburinho da fila do cinema enciúmada pelo desdem.
E os rapazes do Brasil estavam ali enfileirados, traçados em preto no branco que escondia as sardas.
Nada de mais, nada de menos...
A medida exata. Onde necessidades e oportunidades superam a pressa das horas.
Clarice estava lá! Um pouco enciumada mas compreensiva que aquela não era a hora do reencontro. Chegou a passar muitas vezes pelo fundo da cena do meu filme. Num céu mais azul que o de Suely, que aos poucos se encheu de nuvens protetoras. Tempo bom pra chover!
Choveram idéias, olhares, jeitos, gestos, desejos repentinos, contidos, apitos, murmúrios e parachoques. Um banho de um pouco de tudo. Banho de luzes, de sombras, de lembranças, de expectativas equilibradas e de muito mais do que não será posível escrever pois basta lembrar. Basta não temer, não esquecer, basta regar porque algo haverá de nascer.
Assim na calma, na mansidão desmedida, no calor da estufa dos corpos. Vem a noite escura como o café, o sono, o sonho, o despertar, o pensar e o querer ir e ficar, vir e voltar, como o movimento de um olhar observador de pinturas impresionistas.
Muito mais que uma impressão foi a expressão do bom, do belo, do bem e todo os seus derivados.
Bendito, bem escutado, bem cheiroso café!
Quero mais...
flaviohebron disse…
Esse Stan é muito bom!!!!!
Italo disse…
Adorei o texto? Parabéns!
Abraço grande.
Flávio Hebron disse…
Café das arábias Manoel! servido no Planalto leva as alturas
Rosangela disse…
Ah Timbo, vc deveria morar do meu lado. Poderia tds os dias fazer da minha vida uma poesia!!!!!
Lindo amigo. Viajei!!!!!
Bjs
Hector Jaspersen disse…
Oi querido

Otima reflexao, grande aprendizado.

Feliz Natal e tudo de bom para voce nesste 2010

Abracos

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